Thursday, November 23, 2006

«Falta cor a estes versos»

Falta cor a estes versos
Faltam-lhes os encarnados sanguíneos
De fígados (não, não é encarnado) molhados
E pulmões rompidos por pelicanos
(não, não são filantropos)
E envergar uma espinha de tubarão
No couro cabeludo
Esvoaçar por entre esquinas
E partir uma asa num ramo de feto
Embora pudesse, e quisesse, usar o metro
Defender teses fugindo às questões
Com moralismos e gases irrisórios
(parecem ser a mesma coisa...)
Sentir (raios: lá vem de novo a palavra)
Uma jibóia a percorrer as costas
E ouvi-la sussurrar palavras de humor e amor
(e nós retribuímos, claro, com um beijo apaixonado)
Bandas de mil guitarras, com uma só afinada
Oboés e concertinas tocadas por elefantes
(nada é impossível)
E considerar os a prioris de uma caminhada
Por entre pântanos de palavras
E saudáveis dogmatismos
Servidos em carcaças com aparas de queijo...
... Molhadas em leite quente
(se o houver)
Raios: comecei com vermelho e acabei em branco
(o resto da paleta...,
deitei-a na sarjeta
junto com a melhor parte deste poema...)
[2003]

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