De branco repousavas ante mim
Olhos postos no branco dos papéis
E em branco tornavas meus dedos
Do teu branco tive de retirar a pena
Para te desejar e dedicar este poema
Do teu colo de garça de arte e graça em graça
Subia a tua altiva face das penugens aveludadas
E ante mim em branco estavas
Teu branco modelava teu corpo
Teus lábios num painel de branco
Subiram à boca de cena e molharam
Retorceram as húmidas palavras que entoavas
Tão baixinho (se é que antes não lembravas)
Quanto o branco que em mim brotaste
E o teu branco – mas aquele
Poderoso e carnal de graça garça e raça –
Destila o meu em engenhos a crescer e sobe-me
Da tua boca de cena (e gestos sem pena)
Á projecção silenciosa da minha garganta
No fim tive de respirar fundo e gutural
E sacudir as batidas que me enfurecem sentidos
Mas a tua cara longa raça graça e garça não sai de mim
E mesmo após este poema fazer o teu branco
E de ele me contagiar com estes ímpetos
Das fontes de teus húmidos lábios vindos
(E teus olhos presos em algo que não em mim)
Não deixei de sentir o que sinto
(Com garganta e pulmões a dar e dar e testemunhar)
Até que tu e teu branco embora foram
E deixaste-me a sós com este poema –
Intermediário das alvas projecções
No teatro dos meus sentidos
[Algum tempo depois entendi que o teu branco
Era apenas o de todas as mulheres]
[2004]
Friday, February 16, 2007
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