Saturday, November 18, 2006

cidade


Sulcos abro com os pés, na estrada. As silvas nas margens, e depois, um ou dois caminhos paralelos. Os cimentos despontam ao aproximar-me da cidade; são cimentos, e na chuva, o seu cheiro é o de, porventura, um lugar sem raiz, sem matizes – e as acendalhas nocturnas a coroarem a cidade. Um dia, alguém há-de se interrogar das auras que outros deixaram ao percorrer estas ruas, alguém há-de, enganando o atrito que o arremessa contra a parede, procurar um ou outro indício de humanidade na calçada, no passeio, no jardim. Alguém há-de atirar as pernas – e os pés – de modo o mais mecânico possível, quando nada mais for razoável, e quando os movimentos forem suficientes para o engano dos erros e dos arrependimentos.
Um ou dois sentidos são bastantes para certas ruas que já conhecemos. O resultado parece ser invariável – solidão.
Um ou dois caminhos bastam – nas ruas que sulcamos. A invectiva a nós mesmos é eterna – procura.

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