Tuesday, September 06, 2011

Thursday, April 07, 2011

deitei-me a comprovar a animalidade nos homens

tanto assim foi - que os factos fabricados
traziam lastro à minha sofreguidão

[esgares de satisfação por receber as sombras]

dei pela minha alma e
estava fascinado pela perversidade mineral

de milhões de vontades contrárias
na senda do desequilíbrio do cosmos

e apercebi-me de que não aprendi coisas
mas condutas e máquinas e artifícios
em estado ultimado de motim

numa dissolução danada
de verter o frémito no meu abismo

[uma espiral de paredes
forradas de pleuras elásticas]

no limite -
só o verdadeiro lúcido
pode enlouquecer

quando o sonho não resiste
a toda a prova numa cela da mente

[[[e no limite -
serei fogo ou serei água]]]

Tuesday, April 05, 2011

um demónio de joelhos
- compostura honesta
para dissipar o álibi da loucura
e concentrar a vergonha

as mãos ambas no solo

e o corpo elíptico é um dínamo
entre o pó e o mundo seguinte
a cada segundo

Tuesday, February 22, 2011

"Não sou nada.
[...]
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Fernando Pessoa


sou livre
pobre
e sou brutal

à parte isso
tenho em mim todas as virtudes
convenientes

afinal a terra devolve a aluvião
ao mar que a pariu

tributo e sanção eternos
cumpridos com competência e desinteresse

assim pratico eu com menor zelo
sim
mas com maior constância

pagando à minha escala o dízimo
ao solo que me gerou

e no entanto há sempre oportunidade
para formar-se um arco-íris
arrancado da terra saciada

Saturday, November 13, 2010

nem todo o clarão de luz dilucida
o que vai na mente dos bípedes noctívagos

que sinapses acidentadas
e arenas de desejos e imagens estioladas
fazem o desacerto e a solidão

entre as sombras e os ventos gélidos
o difícil é manter-se sobre duas pernas

quando o que empurra o corpo
não correspondente ao que está adiante

os olhos adquirem
um brilho súbito de lâmina

afiada por dentro
romba por fora

Monday, November 01, 2010

e porque não uma pura extinção
digo eu entredentes

enquanto os lábios estalam
o contrário enganados

da sentença fecunda
e da palavra de paz

e porque não

porque o que corrói
não é o entusiasmo que se cumpre

mas o entusiasmo que nasce morto
ou é esventrado vivo

enfiando nós o estatuto
cobarde de meros transeuntes

em contemplação académica
à cata de indicadores e normas

pistas e métodos
e acréscimos de experiência

afinal – de que nos vale aprender
segurar um lápis um livro uma colher

melhor é uma mais pura extinção
para escapar ao luzidio repasto

do adiado esquecimento

Sunday, October 17, 2010

sei que construir uma casa
de geometria perfeita

implica lançar as bases
silenciosas de um mausoléu

e enterrar minas e esporões
no ermo selvagem em redor

[quando o trabalho e o dever
de tão pálidos petrificam

logo um frémito deve sobrepor
as linhas da topografia
às do espaço fractal]

por vezes porém um inocente
um inimigo - ou um filho -
penetram no campo minado sem mapa